segunda-feira, 5 de maio de 2008

Elevador

Eu fui acender um cigarro em meu bloco solitário na frente da porta do prédio em que trabalho e fiquei por um momento pensando 'onde estarei daqui a cinco minutos? Em meu assento digitando ou espero aqui fora até a hora de sair sem me importar com a carga de tarefas intensa que me passaram há alguns dias e não me deixa tempo para desfrutar de uns momentos ao ar livre poluindo-o com momentos de reflexão? comemoro daqui a quatro dias, 3 anos de carreira profissional em um lugar perfeito, e onde eu cheguei graças ao meu otimismo e achando que o mundo pertencia a mim, quando poderia nunca ter saído de casa e tocar violão em meu quarto para ninguém e viver livre em casa com meu cachorro, com o qual eu sairia quando bem entendesse e poderia lavar as louças com maior prazer, pois não teria mais nada de importante para fazer, tem gente que tem e não usa, mas eu tenho e uso, e acho que ninguém mais manda em mim'.
Voltei ao prédio, entrei no elevador e esperei, esperei, esperei, até que não tinha mais o que esperar, e o elevador parecia ter escolhido seu pretendente. Não adiantava eu gritar, me espernear diante da porta, ela não ía se mexer, nem se eu conseguisse abrí-la, pois a porta seguinte era feita de concreto. apertei todos os botões, mas eles só davam risada da minha cara de 'otário, cê tá fudidinho meu querido, vucê é só meu!'. Ai de mim se tentasse abrir o teto e escalar as cordas, porque ele também não abria.
Duas horas se passaram, e eu lá sentado esperando, me levantei pois senão outra coisa iria também, e então abri um pouco a porta para me desvencilhar do cheiro que viria por seguinte, e se alguém estivesse em baixo com uma banheira não ía faltar água no andar térreo, ou mais abaixo.
Quatro horas se passaram, e como é sempre bom estar com um celular quando se está em um elevador, disquei para me chefe e disse 'olha meu, mais meia horinha e eu fecho a braguilha', e e lá se foi minha última reserva de água mineral.
Dez horas se passaram, e as luzes se apagaram. 'Boa noite meu amor, amanhã a eu te acordo'. Cantei uma musica de ninar pro meu amor também dormir e na pior de todas as hipóteses que poderiam surgir na minha cabeça que já estava de saco cheio daquela joça, durmi.
Pelo jeito, já tinham se passado umas doze horas, por que nem meu novo amor me acordou, e eu podia ver claramente a luz do sol batendo em seu traseiro, mas não em sua cara.
Ouvi, uma barulheira no elevador do lado, mas meu amor me impedia de fazer um barulho igual ao seu irmão bonzinho, e eu tive que ligar pro meu chefe de novo dizendo que 'mané, minha mulher não quer que eu saia vivo de casa' e tive que me contentar com os botõezinhos.
Como só tinha um maço de cigarros e a carteira em meu bolso, fiquei jogando palito com os cigerretes e conferindo se não tinha esquecido meu cartão de crédito, no caso de alguma compra de mantimentos para meu cárcere. Certo de que o carrasco não me dava escolha, pedi uma porção de fritas e um X-Burro, por que quem não leva celular no elevador é um tremendo de um idiota.
Nessa brincadeira e levando minha vida como se morasse num caixão, pensei no que poderia estar fazendo nesse momento, e se passaram mais quinze horas de gorjeios e lamentações por ter ido fumar um cigarrinho de palha, mas só por isso não largaria essa bomba, aliás poderia ter fumado muito mais, pra morrer antes de chegar aonde cheguei e as faxineiras que me acudissem!
Desmaiei cheio de suor antes de despejar o líquido dos deuses - não é o que estão pensando, mas sim minhas costas de camelo que se esvaziavam - e dormi novamente.
Cinco horas se passaram, e então ouvi uma barulheira mas os olhos embaçados e o corpo mole me impediam de dar meu grito de guerra pela última vez e levantar a bandeira branca - ou preta.
Acordei numa maca, pelo que me falaram, três horas depois com pessoas que eu nem reconhecia mais ou não queria mais reconhecer: era minha família, e eu estava vivo.

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